quinta-feira, 17 de abril de 2014

Toxoplasma gondii


   Toxoplasma gondii (T. gondii) é um protozoário intracelular obrigatório com distribuição mundial e capaz de infectar a maioria dos animais de sangue quente, incluindo aves, animais silvestres e domésticos e também o homem, sendo o causador da doença conhecida como toxoplasmose.

   A prevalência da toxoplasmose varia de 20 a 90% na população humana mundial, com algumas diferenças relacionadas a aspectos geográficos (Galván et al, 1998) e atribuídas a fatores de risco que podem variar entre as regiões, como tipo de alimentação, tratamento adequado da água e exposição ambiental (COOK et al, 2000; OLIVEIRA et al, 2003).

Biologia do T. gondii

   O T. gonddi pertence ao Filo Apicomplexa e apresenta as seguintes formas evolutivas durante seu ciclo de vida:

Taquizoíto: forma arqueada, com aproximadamente 6μm de comprimento e 2μm de largura, encontrada durante a fase aguda da infecção, sendo também denominada forma proliferativa ou forma livre (DOBROWOLSKI; SIBLEY, 1996).

Taquizoíto de Toxoplasma gondii obtido por microscopia óptica de campo claro. As células epiteliais foram coradas com Giemsa. Observe que os parasitas se agrupam em formato de roseta. Legenda: 1. célula epitelial; 2. núcleo da célula epitelial; 3. taquizoíto; 4. vacúolo parasitóforo da célula epitelial. Imagem: (T. Carvalho e colaboradores)


Cisto: contêm os bradizoítos que são morfologicamente semelhantes aos taquizoítos, mas possuem uma replicação lenta. É a forma de resistência do T. gondii nos tecidos, encontrada durante a fase crônica da infecção (FRENKEL, 1973).

Toxoplasma gondii visualizado por microscopia óptica de campo claro. Legenda: 1. Cisto; 2. Bradizoíto; 3. Parede cística; 4. Tecido muscular. Imagem: (W. Souza).


Oocisto: Por ser a forma de resistência, possui uma parede dupla bastante resistente às condições do meio ambiente. São produzidos nas células intestinais de felídeos não imunes e eliminados ainda imaturos junto com as fezes. Os oocistos maduros contêm dois esporocistos e oito esporozoítos que são as formas infectantes para os mamíferos e aves e também para o ser humano (FRENKEL, 1973).

Oocisto com dois esporocistos (Imagem: ICB/UFMG)


Ciclo de vida do T. gondii

Ciclo de vida do T. gondii que mostra as rotas de transmissão entre hospedeiros intermediários e definitivos. Esquema adaptado de: (MA Moura e HS Barbosa).

   O T. gondii apresenta um ciclo de vida heteroxênico facultativo, com vias de transmissão fecal-oral, carnivorismo e congênita (DUBEY, 1986). Os únicos hospedeiros definitivos são os felídeos (silvestres e gatos domésticos) e outros mamíferos e aves são os hospedeiros intermediários. Nos felídeos ocorre a multiplicação enteroepitelial, com a produção de oocistos que são levados ao meio ambiente juntamente com as fezes. Além dos oocistos, outras formas de vida existentes nas fases agudas e crônica da infecção (taquizoítos e cistos) são transmitidas aos hospedeiros intermediários, ampliando o risco de infecção para o homem e outros animais. Após a ingestão pelo hospedeiro, a parede externa de cistos ou oocistos é rompida por ação de enzimas digestivas e as formas infectantes (bradizoítos ou esporozoítos) são liberadas no lúmen intestinal.

   Os bradizoítos ou esporozoítos infectam o epitélio intestinal produzindo formas assexuadas (taquizoítos) que penetram em células nucleadas, desenvolvem pseudocistos e se multiplicam rapidamente por endodiogenia, ocorrendo, assim, uma infecção aguda, que dissemina o parasito por todo o organismo do hospedeiro vertebrado. Após alguns dias da infecção sistêmica pelos taquizoítos, ocorre o desenvolvimento de outro estágio do ciclo, a formação de cistos teciduais contendo bradizoítos. Estes cistos podem se desenvolver em qualquer órgão visceral, incluindo pulmões, fígado e baço, mas a maior prevalência tem sido verificada em tecidos neurais e musculares, como cérebro, olhos e musculatura esquelética estriada ou cardíaca, nos quais permanecem por toda a vida do indivíduo. (DUBEY et al., 2004; MONTOYA; LIESENFELD, 2004).

   O ser humano ainda pode adquirir a infecção de forma congênita ou transplacentária, por transfusão sangüínea, transplante de órgãos e transmissão acidental por auto-inoculação em laboratório (MONTOYA; LIESENFELD, 2004).


Transmissão
  • Ingestão de carne de animais infectados;
  • Ingestão de água com oocistos esporulados;
  • Via transplacentária (mulheres grávidas).

Sintomatologia
  • Febre;
  • Manchas pelo corpo;
  • Cansaço;
  • Dores no corpo;
  • Linfadenopatia, ou seja, ínguas espalhadas pelo corpo;
  • Dificuldade para enxergar que pode evoluir para cegueira;

Obs.: A toxoplasmose pode ser uma doença absolutamente assintomática ou provocar quadros graves no miocárdio, fígado e músculos, encefalite e exantema máculo-papular (vermelhidão pelo corpo em forma de pequenas manchas e pápulas).


Aspectos clínicos

   A maior parte dos humanos infectados é assintomática ou desenvolve infecção localizada, porém, mulheres grávidas podem transmitir o T.gondii ao feto (infecção congênita). A severidade da doença depende do estágio da gravidez em que ocorreu a infecção. Pode ser leve com diminuição da acuidade visual (terço final da gravidez) ou se ocorrer no início da gestação pode provocar retinocoroidite, hidrocefalia, convulsão e calcificação cerebral (DUBEY; MORALES; LEHMANN, 2004).

Diagnóstico e incubação

·  O diagnóstico é variado e pode ser feito por pesquisa parasitológica direta do T. gondii em amostras de sangue e outros fluidos ou através de cortes de tecido doente. Podem ser feitos testes sorológicos, a fim de identificar anticorpos específicos para o parasita.

· O período de incubação da toxoplasmose varia de 10 a 23 dias, quando a fonte é a ingestão de carne. De 5 a 20 dias quando se relaciona com o contato com animais.

Tratamento

·  São utilizados com prescrição médica diversos tipos de drogas no tratamento da toxoplasmose, como: atovaquone; azitromicina; espiramicina; pirimetamina; sulfadiazina; pirimetamina. O tipo de droga empregado depende da forma e manifestação clínica da doença. 

Profilaxia
  • Manter boa higiene e lavar as mãos depois de manipular alimentos crus;
  • Lavar os utensílios utilizados em alimentos crus;
  • Realizar o cozimento adequado dos alimentos;
  • Lavar as mãos antes das refeições;
  • Utilizar luvas ao manipular terra ou areia, pois podem estar contaminadas com fezes de gatos;
  • Cuidar da saúde dos gatos domésticos que devem ser mantidos no interior de residências com o mínimo de contato com o meio externo;
  • Controlar a alimentação dos gatos com rações de qualidade;
  • As fezes dos gatos e o material de forração de seus leitos devem ser eliminados diariamente, antes que os oocistos tenham tempo de esporular;
  • Quando se utilizam caixas de areia para a defecação dos gatos, estas devem ser tratadas periodicamente com água fervendo, para destruir os oocistos eventualmente existentes;
  • Os tanques de areias para recreação de crianças devem ser cobertos quando não estão em uso, ou cercados de modo a impedir o acesso de gatos;
  • Combater vetores mecânicos (insetos, principalmente baratas), pois eles também são responsáveis pela contaminação de produtos de origem animal e vegetal;
  • Quanto a mulheres grávidas realizar todos os exames e consultas de pré-natal. 


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Referências

BAHIA-OLIVEIRA, L.M.G., JONES, J.L., AZEVEDO-SILVA, J., ALVES, C.C.F., Ore´ce, F., Addiss, D.G., 2003. Highly endemic, waterborne toxoplasmosis in north Rio de Janeiro State. Brazil Emerging Infect. Dis. 9, 55–62.

COOK AJ, GILBERT RE, BUFFOLANO W, et al. Sources of. Toxoplasma infection in pregnant women: European multicentre case-control study. European Research Network on Congenital Toxoplasmosis. BMJ. 2000;321:142-7.

DUEBEY, J.P. A review of toxoplasmosis in pigs. Veterinary Parasitology, v. 19, n. 3-4, p. 181-223, 1986. Dubey, J.P.;Morales, E.S















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