terça-feira, 15 de abril de 2014

Giardia intestinalis (sinonímia = G. lamblia ou G. duodenalis)

   Giardia intestinalis é um parasito cosmopolita de região temperada e tropical, sendo considerado o protozoário patogênico mais prevalente (FERREIRA; ÁVILA, 2001). A OMS estima que ocorram mais de 200 milhões de casos anuais de giardíase na África, Ásia e América Latina.
   É um protozoário flagelado que habita o intestino delgado de anfíbios, répteis, aves e mamíferos, incluindo o homem. A giardíase é uma parasitose intestinal que acomete milhões de pessoas em todo o mundo, principalmente nos países em desenvolvimento, onde as condições sanitárias são insuficientes. Em alguns países é conhecida como diarreia dos viajantes, pois é muito comum em turistas que são infectados durante suas viagens ao ingerir água ou alimentos contaminados com o cisto do parasito.


Biologia da G. intestinalis

   A G. intestinalis apresenta duas formas evolutivas: o trofozoíto e o cisto. O trofozoíto tem formato de pêra, apresenta simetria bilateral, tem dois núcleos anteriores e oito flagelos. Uma ventosa discoide na face ventral, é o meio de fixação à mucosa intestinal. Os cistos são ovais ou elipsóides com dois ou quatro núcleos localizados em um dos polos (GOMES et al, 2002).

 O cisto é forma infectante responsável pela transmissão da doença e o trofozoíto responsável pelo parasitismo no hospedeiro, forma encontrada no intestino delgado.

   A forma cística é relativamente inerte e é muito resistente às condições adversas do meio, podendo permanecer viáveis por vários meses. 

Cisto “Giardia intestinalis” observado em microscopia óptica
(1-microtúbulos; 2-núcleo; 3-parede cística; 4-corpo mediano)
Fonte: http://ppsus.cederj.edu.br/ (Imagem: W. Souza)


Trofozoíto “Giardia intestinalis” observado em microscopia óptica
(1-núcleo; 2-corpo mediano; 3-axonêma; 4-flagelo)
Fonte: http://ppsus.cederj.edu.br/ (Imagem: W. Souza)


Ciclo de vida da G. intestinalis

Esquema do ciclo de vida de Giardia intestinalis (D. Teixeira e M. Benchimol, 2011).

   A figura acima, mostra as etapas do ciclo de vida da G. intestinalis. O ciclo inicia-se pela ingestão dos cistos (1), que ao chegarem ao estômago, sofrem sensibilização da parede cística, devido ao pH ácido encontrado nessa região, iniciando o processo de  desencistamento (2). Quando chegam ao duodeno, encontram um ambiente com pH ligeiramente alcalino que contém enzimas com atividade proteolítica, levando a liberação dos trofozoítos (3). De cada cisto são liberados dois trofozoítos. Estes penetram no muco e aderem às células epiteliais do duodeno e da parte superior do jejuno, promovendo achatamento das microvilosidades (DE SOUZA, 2013). Cada trofozoíto divide-se em dois (4), tendendo a recobrir o epitélio intestinal do hospedeiro (5). Assim que se desprende do epitélio, devido a um mecanismo ainda desconhecido, os trofozoítos se deslocam pela luz intestinal ajudado pelos movimentos peristálticos. No íleo, possivelmente em consequência do contato com os sais biliares no lúmen, estes trofozoítos entram em processo de encistamento, transformando-se em cistos (6) (GILIN et al, 1988; LUJÁN et al, 1996). Os cistos (7), que representam a forma infectiva, são então liberados nas fezes podendo contaminar novos hospedeiros. 

   A forma cística é relativamente inerte e muito resistente às condições adversas do meio, podendo permanecer viáveis por vários meses e a concentração de cloro usada na água potável não é suficiente para eliminar estas formas, apenas a filtração é considerada eficaz (ORTEGA; ADAM, 1997). 

Transmissão
  • Através da ingestão de cistos contidos em água ou alimentos contaminados.
  • Um indivíduo previamente infectado pode se reinfectar levando a mão suja com os cistos à boca.
  • A dose infectiva média dos cistos de Giardia lamblia em humanos é da ordem de 50 a 100 cistos, embora algumas pessoas possam se infectar com 1 a 10 cistos (RENDTORFF, 1954).

Sintomatologia
  • Diarreia com fezes gordurosas (esteatorreia)
  • Dor abdominal
  • Náuseas
  • Perda de peso
  • Fraqueza
  • Cansaço

Aspectos clínicos

  • O espectro da giardíase é extenso, desde infecções assintomáticas até infecções com diarreia crônica acompanhada de esteatorreia, perda de peso e má absorção intestinal, que podem ocorrer em 30 a 50% dos pacientes infectados (Neves, 2005).

  • A forma aguda se caracteriza por diarreia do tipo aquosa, acompanhada de distensão e dor abdominal, extremamente preocupante em indivíduos imunocomprometidos, em crianças e idosos. A giardíase pode levar à má absorção de açúcares, gorduras e vitaminas A, D, E, K, B12, ácido fólico, ferro, zinco (MELLO et al., 2004).

Tratamento


  • Os medicamentos utilizados no tratamento da giardíase são: Tinidazol, Secnidazol ou o Metronidazol. Vale lembrar que todos devem ser utilizados somente com prescrição médica.

Profilaxia
  • Tomar somente água tratada;
  • Lavar e higienizar, frutas e verduras antes do consumo;
  • Lavar as mãos após usar o banheiro e antes das refeições;
  • Procurar ajuda médica, caso apresente os sintomas específicos;
  • Tomar os medicamentos de maneira adequada;
  • Exigir das autoridades competentes as medidas de saneamento básico, como, água tratada, rede de esgoto e coleta de lixo.
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Referências

BINGHAM AK, MEYER EA (1979) Giardia excystation can be induced in vitro in acidic solution. Nature 227: 301-302.

GOMES, T.C.; ALMEIDA, M.F.; MIURA, L.A.; GRANJA, J.; SANTOS, D.V.G.; OLIVEIRA, R.M.F.; LOPES, A., SEQUIRA, B.P.; ROLEMBERG, A.A.; MORAES, A.L.; SANTOS, C.S. Helmintoses intestinais em população de rua da cidade do Rio de Janeiro. Rev. Soc. Bras. Med. Trop., Uberaba, vol.35, n.5, p.531-532, 2002.

FERREIRA, A. W.; ÁVILLA, S. L. M. Diagnóstico Laboratorial das Principais Doenças Infecciosas e Auto-Imunes. Editora Guanabara Koogan, 2ª edição Rio de Janeiro, 2001.

GILIN FD, REINER DS, BOUCHER SE (1988) Small intestinal factors promote encystation of Giardia lamblia in vitro. Infect Immun 56:705-707.

LUJAN HD, MOWATT MR, BYRD LG, NASH TE (1996) Cholesterol starvation induces differentiation of the intestinal parasite Giardia lamblia. Proc Natl Acad Sci 93:7628-7633.
Melo MCB, Klem VGQ, Mota JAC, Penna FJ. Parasitosesintestinais. Rev Med Minas Gerais. 2004 Jan/Fev; 14(1):3-12.

NEVES DP. Parasitologia Humana. 11ª ed. São Paulo: Atheneu; 2005. 494 p.

ORTEGA Y, ADAM R. (1997) Giardia: Overview and Update. Clin Infect Dis 25:545-550.

RENDTORFF RC (1954) The experimental transmission of human intestinal protozoan parasites. II. Giardia lamblia cysts given in capsules. Am. J. Hyg. 59: 209-220.




Um comentário:

  1. Muito obrigada à todos que fizeram está página,muito me ajudou para meu trabalho no curso técnico.

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